sábado, 14 de dezembro de 2013

"Cuidado com os burros motivados"

Roberto Shinyashiki

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”
 
Istoé -
Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki -
Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado,
viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
 
Istoé -O sr. citaria exemplos?
Roberto Shinyashiki -
Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
 
Istoé -
Qual o resultado disso?
Roberto Shinyashiki -
Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
 
Istoé -
Por quê?
Roberto Shinyashiki -
O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
 
Istoé -
Há um script estabelecido?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente
de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos
respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de
cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.” É exatamente o que o chefe
quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado
ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma
forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir.” Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?
 
Istoé -
Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Roberto Shinyashiki -
Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
 
Istoé -
Está sobrando auto-estima?
Roberto Shinyashiki -
Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
 
Istoé -
Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Roberto Shinyashiki -
Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham.” Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
 
Istoé -
O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Roberto Shinyashiki -
Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.
 
Istoé -
É comum colocar a culpa nos outros?
Roberto Shinyashiki -
Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta
é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.
 
Istoé -
Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Roberto Shinyashiki -
Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
 
Istoé -
Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Roberto Shinyashiki -
O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.
 
Istoé -
Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Roberto Shinyashiki -
A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: “Você tem de estar feliz todos os dias.” A terceira é: “Você tem que comprar tudo o que puder.” O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: “Você tem de fazer as coisas do jeito certo.” Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar.
 
Istoé -
O sr. visita mestres na Índia com freqüência. Há alguma parábola que o sr. aprendeu com eles que o ajude a agir?
Roberto Shinyashiki -
Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz.” Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis. Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes. O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.

O que é um Plano de Contas?

O Plano de Contas, também conhecido como Modelo Contas, Estrutura de Contas ou Elenco de Contas, é uma lista que apresenta as contas necessárias para que a empresa possa registrar todos os eventos e movimentações econômicas e financeiras que acontecem durante suas atividades e operações.

Abaixo temos um exemplo de algumas contas comumente presentes em um plano de contas:

Exemplo Plano de Contas
Exemplo plano de contas

A elaboração de um plano de contas bem estruturado é fundamental para a gestão econômico-financeira de qualquer empresa, pois é ele que norteia os trabalhos contábeis de registro de fatos e atos inerentes à entidade, além de servir de base para a elaboração das demonstrações contábeis (Demonstrativo de Resultados do Exercício, Demonstrativo de Fluxo de Caixa e Balanço Patrimonial).

Apesar de a estrutura base do plano de contas costumar não variar muito, a sua montagem deve ser personalizada por empresa, já que cada organização possui necessidade de registro e análise de informações com detalhamentos específicos, que um modelo de plano de contas “genérico” pode não compreender.

Principais Grupos de Contas em um Plano de Contas

O plano de contas é dividido em quatro grandes grupos:
  1. Ativos
  2. Passivos
  3. Receitas
  4. Despesas

Dentro de cada um destes grupos são criadas as contas sintéticas (ou contas agrupadoras), que por sua vez são detalhadas em contas e subcontas, como no modelo da imagem acima.

Nas próximas semanas publicaremos um artigo detalhando sobre cada um destes grupos.

Plano de Contas Contábeis x Plano de Contas Gerencial

Para atender as determinações legais do setor em que atua, a empresa deve manter o plano de contas contábil com base nas Normas Brasileiras de Contabilidade. Este plano de contas servirá como base para montagem do balanço patrimonial, que é uma das demonstrações contábeis que visa a evidenciar de forma sintética e padronizada a situação patrimonial da empresa. Portanto, essa demonstração deve ser estruturada e apresentada de acordo com os preceitos da Lei 6.404/76 (chamada “Lei das S/A”) e segundo os Princípios Fundamentais de Contabilidade.

Porém, em muitos casos essa estruturação é realizada apenas para atender a legislação, porém pode não atender as necessidades de análise da organização. Para isto a equipe de contabilidade e controladoria costuma elaborar um plano de contas gerencial, que nada mais é do que um arranjo diferente das contas existentes, bem como inclusão ou exclusão de outras contas, visando atender as necessidades de análise dos resultados econômico, financeiro e patrimonial da empresa.

Mas ao definir um plano de contas gerencial deve ser tomado o cuidado de cria-lo de maneira organizada e estruturada para que as informações geradas para alimentar o plano de contas contábil também sirvam para alimentar o plano de contas gerencial de maneira automática, pois do contrário pode aumentar significativamente o trabalho da equipe envolvida, e principalmente a chance de erros e inconsistências ao se trabalhar com dois planos de contas diferentes.

Modelo de Plano de Contas para download

Estamos preparando um modelo de plano de contas para servir de base para elaboração do personalizado de sua empresa, e o próximo artigo disponibilizaremos aqui para download gratuito, bem como demonstraremos passo a passo como montar um plano de contas personalizado para sua empresa.

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 Eu tenho 54 anos e meio. E você, quantos anos tem?

 
Na semana passada, estive com um grupo de advogadas, todas com idades na casa dos 20 anos e que começaram a trabalhar na City de Londres. Uma delas me disse que não aguenta mais ter que responder a perguntas de colegas e clientes de meia-idade sobre quantos anos tem. As outras concordaram: são perguntadas o tempo todo sobre suas idades e odeiam isso. Elas veem isso como uma maneira de minar sua autoridade e as colocar nos devidos lugares.
 
Quando cheguei à redação no dia seguinte, fiz uma pesquisa entre os mais jovens para saber se a mesma coisa acontece com eles. Quase todos disseram que sim - mulheres e homens. Eis aí outro ultraje surgido na chamada "crunch generation" (que precisa cuidar dos pais e parentes mais velhos e, ao mesmo tempo, têm as responsabilidades com os próprios filhos): essas pessoas não conseguem comprar a casa própria, estão em dívida com o crédito educacional, lutam para conseguir um emprego decente e, quando finalmente conseguem, são punidas por serem jovens.
 
Uma análise rigorosa mostra que a situação é ainda mais complicada. Minha amostragem sugere que há uma diferença entre a maneira como os sexos encaram o problema. Para as mulheres, é como se elas fossem vítima do machismo e do preconceito com a idade ao mesmo tempo. Já para alguns dos jovens do sexo masculino, é uma oportunidade para eles se exibirem. Poder dizer "tenho 23 anos e veja só o que já conquistei" é algo muito gratificante.
 
Mas, para homens e mulheres, em algum momento quando eles se aproximam dos 30 anos - e pouco antes do aparecimento da primeira ruga - esses questionamentos cessam. Por um acordo tácito, todo mundo para de fazer esse tipo de pergunta.
 
As únicas pessoas na faixa dos 30 anos que continuam sendo inquiridas são aquelas muito bem-sucedidas (conheço alguém com 32 com uma posição em conselho e que recebe muitas perguntas sobre sua idade), ou mulheres grávidas, que são inquiridas por outras mulheres ansiosas com a diminuição de sua fertilidade.
 
O errado - e peculiar - disso tudo não é o fato de perguntarmos aos trabalhadores mais jovens quantos anos eles têm. É o fato de não perguntarmos às demais pessoas. Quando se trata de crianças, a primeira coisa que queremos saber é a idade. Até mesmo a criança mais tímida está pronta para responder "tenho três anos e meio".
 
Com frequência, os colegas de trabalho perguntam as idades de meus filhos, assim como a idade de meu pai. Mas eles nunca perguntam a minha.
 
É considerado falta de educação perguntar a idade para as pessoas que têm entre 28 e 65 anos - a maior parte de nossas vidas que dedicamos ao trabalho.
 
No LinkedIn, as pessoas postam todo tipo de informações irrelevantes sobre si, incluindo se possuem uma "habilidade" chamada de "liderança de equipe interfuncional", mas nunca declaram suas idades. Quem quiser saber precisa olhar a data em que as pessoas terminaram a universidade.
 
Nosso pudor em relação à idade no trabalho não se deve ao fato de acharmos a idade algo pouco importante. Pelo contrário: a idade continua a nos fascinar. Sempre que entrevisto alguém, só considero que fiz o trabalho de maneira adequada depois que pergunto a idade do entrevistado.
 
A idade de alguém diz respeito à experiência que essa pessoa tem. É uma medida do quanto estamos nos saindo bem. Pode haver outras maneiras melhores de avaliar isso, mas o bom desta é que ela é simples e pode ser aplicada a qualquer um. No mínimo, a idade das pessoas dá a você uma pista sobre seus gostos musicais.
 
Você pode dizer que falar abertamente sobre a idade pode levar a mais discriminação, mas não acho isso. Não tratamos pessoas mais velhas e mais jovens do mesmo jeito, porque elas são diferentes.
 
A recusa em revelar o quanto uma pessoa é velha torna a discriminação ainda pior, uma vez que significa que aquelas que investiram em Botox ou ganharam na loteria genética e ainda estão em boa forma e os cabelos ainda não embranqueceram, saem-se melhores do que aquelas que estão grisalhas e com rugas.
 
Na semana passada, eu disse às jovens advogadas que quando alguns colegas mais velhos perguntassem suas idades, elas deveriam sorrir e responder: "Tenho 27 e você?".
 
A última vez que me perguntaram isso de maneira tão direta foi há quase uma década. Eu estava deitada em uma ambulância e um homem estava inclinado sobre mim, me dizendo que eu havia sofrido um acidente de bicicleta.
 
"Como você se chama?", ele perguntou. "Quem é o primeiro-ministro?" Respondi sem dificuldade. E aí ele disse: "Quantos anos você tem?". Após vasculhar meu cérebro, respondi como se tivesse desencavado uma informação de interesse considerável, ainda que obscuro: "Acho que estou na casa dos 40".
 
Agora, muito tempo depois que o "galo" na cabeça desapareceu, posso dizer com certeza que tenho 54 anos e meio. É uma idade muito boa para se ter.
 
Não é a idade que sinto ter (uma vez que isso diz respeito ao estado de espírito), mas ela diz alguma coisa. No mínimo, que entrei para a força de trabalho em tempos mais fáceis e ainda estou aqui.
 
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
 

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