sábado, 14 de dezembro de 2013

 Eu tenho 54 anos e meio. E você, quantos anos tem?

 
Na semana passada, estive com um grupo de advogadas, todas com idades na casa dos 20 anos e que começaram a trabalhar na City de Londres. Uma delas me disse que não aguenta mais ter que responder a perguntas de colegas e clientes de meia-idade sobre quantos anos tem. As outras concordaram: são perguntadas o tempo todo sobre suas idades e odeiam isso. Elas veem isso como uma maneira de minar sua autoridade e as colocar nos devidos lugares.
 
Quando cheguei à redação no dia seguinte, fiz uma pesquisa entre os mais jovens para saber se a mesma coisa acontece com eles. Quase todos disseram que sim - mulheres e homens. Eis aí outro ultraje surgido na chamada "crunch generation" (que precisa cuidar dos pais e parentes mais velhos e, ao mesmo tempo, têm as responsabilidades com os próprios filhos): essas pessoas não conseguem comprar a casa própria, estão em dívida com o crédito educacional, lutam para conseguir um emprego decente e, quando finalmente conseguem, são punidas por serem jovens.
 
Uma análise rigorosa mostra que a situação é ainda mais complicada. Minha amostragem sugere que há uma diferença entre a maneira como os sexos encaram o problema. Para as mulheres, é como se elas fossem vítima do machismo e do preconceito com a idade ao mesmo tempo. Já para alguns dos jovens do sexo masculino, é uma oportunidade para eles se exibirem. Poder dizer "tenho 23 anos e veja só o que já conquistei" é algo muito gratificante.
 
Mas, para homens e mulheres, em algum momento quando eles se aproximam dos 30 anos - e pouco antes do aparecimento da primeira ruga - esses questionamentos cessam. Por um acordo tácito, todo mundo para de fazer esse tipo de pergunta.
 
As únicas pessoas na faixa dos 30 anos que continuam sendo inquiridas são aquelas muito bem-sucedidas (conheço alguém com 32 com uma posição em conselho e que recebe muitas perguntas sobre sua idade), ou mulheres grávidas, que são inquiridas por outras mulheres ansiosas com a diminuição de sua fertilidade.
 
O errado - e peculiar - disso tudo não é o fato de perguntarmos aos trabalhadores mais jovens quantos anos eles têm. É o fato de não perguntarmos às demais pessoas. Quando se trata de crianças, a primeira coisa que queremos saber é a idade. Até mesmo a criança mais tímida está pronta para responder "tenho três anos e meio".
 
Com frequência, os colegas de trabalho perguntam as idades de meus filhos, assim como a idade de meu pai. Mas eles nunca perguntam a minha.
 
É considerado falta de educação perguntar a idade para as pessoas que têm entre 28 e 65 anos - a maior parte de nossas vidas que dedicamos ao trabalho.
 
No LinkedIn, as pessoas postam todo tipo de informações irrelevantes sobre si, incluindo se possuem uma "habilidade" chamada de "liderança de equipe interfuncional", mas nunca declaram suas idades. Quem quiser saber precisa olhar a data em que as pessoas terminaram a universidade.
 
Nosso pudor em relação à idade no trabalho não se deve ao fato de acharmos a idade algo pouco importante. Pelo contrário: a idade continua a nos fascinar. Sempre que entrevisto alguém, só considero que fiz o trabalho de maneira adequada depois que pergunto a idade do entrevistado.
 
A idade de alguém diz respeito à experiência que essa pessoa tem. É uma medida do quanto estamos nos saindo bem. Pode haver outras maneiras melhores de avaliar isso, mas o bom desta é que ela é simples e pode ser aplicada a qualquer um. No mínimo, a idade das pessoas dá a você uma pista sobre seus gostos musicais.
 
Você pode dizer que falar abertamente sobre a idade pode levar a mais discriminação, mas não acho isso. Não tratamos pessoas mais velhas e mais jovens do mesmo jeito, porque elas são diferentes.
 
A recusa em revelar o quanto uma pessoa é velha torna a discriminação ainda pior, uma vez que significa que aquelas que investiram em Botox ou ganharam na loteria genética e ainda estão em boa forma e os cabelos ainda não embranqueceram, saem-se melhores do que aquelas que estão grisalhas e com rugas.
 
Na semana passada, eu disse às jovens advogadas que quando alguns colegas mais velhos perguntassem suas idades, elas deveriam sorrir e responder: "Tenho 27 e você?".
 
A última vez que me perguntaram isso de maneira tão direta foi há quase uma década. Eu estava deitada em uma ambulância e um homem estava inclinado sobre mim, me dizendo que eu havia sofrido um acidente de bicicleta.
 
"Como você se chama?", ele perguntou. "Quem é o primeiro-ministro?" Respondi sem dificuldade. E aí ele disse: "Quantos anos você tem?". Após vasculhar meu cérebro, respondi como se tivesse desencavado uma informação de interesse considerável, ainda que obscuro: "Acho que estou na casa dos 40".
 
Agora, muito tempo depois que o "galo" na cabeça desapareceu, posso dizer com certeza que tenho 54 anos e meio. É uma idade muito boa para se ter.
 
Não é a idade que sinto ter (uma vez que isso diz respeito ao estado de espírito), mas ela diz alguma coisa. No mínimo, que entrei para a força de trabalho em tempos mais fáceis e ainda estou aqui.
 
Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira
 

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