A marcha da
indústria de shopping centers para o interior do Brasil é uma das
mais fortes tendências do setor. Dos 38 estabelecimentos inaugurados no ano
passado, um novo recorde, 23 estão em cidades interioranas. Levantamento da
Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) mostra que a maioria deles
foi construída em municípios com até 500 mil habitantes, com uma média de
26.142 mil m2 de Área Bruta Locável (ABL). Em 2014 não será diferente. Dos
38 previstos para abrir as portas neste ano, dos quais sete já estão em
operação, apenas dez estarão nas capitais.
"Todas as
cidades sonham com um shopping center, um equipamento do mundo moderno,
criado para facilitar a vida das pessoas", explica Luiz Fernando Veiga,
presidente da Abrasce. Existem bons motivos para o sonho. "Não existem
dúvidas sobre o poder dos malls de alavancar o desenvolvimento dos
municípios", diz Veiga. Estudo encomendado pela Abrasce quantifica os
ganhos econômicos dos municípios com população entre 90 mil e 1 milhão de habitantes
com a chegada dos centros de compras.
A percepção da
valorização imobiliária na região próxima ao empreendimento é 46% superior à do
restante da cidade. Os moradores percebem as diferenças e 59% deles dizem que
as residências próximas aos shoppings receberam melhorias. A valorização dos
imóveis resulta em um aumento de 82% na arrecadação do Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU).
Isso, sem falar no
desenvolvimento de toda a área, mesmo quando fica relativamente afastada. Foi o
que ocorreu com o Parque D. Pedro Shopping, em Campinas, instalado pela
Sonae Sierra em uma região servida por rodovias como a D. Pedro I e a
Anhanguera e distante do centro da cidade. Inaugurado em 2002, o mall se
consolidou como atração regional e os impactos causados foram objeto de estudos
e até mesmo de teses acadêmicas.
"Além disso,
os shoppings oferecem oportunidade de crescimento para o comércio
local, geralmente limitado a uma pequena área nas cidades de médio porte, e
para a qualificação dos serviços oferecidos", diz Marcelo Sallum,
sócio-diretor da Lumine Soluções em Shopping Centers. "Quanto maior a
concorrência, melhor o atendimento, beneficiando o consumidor e toda
a população local. É uma operação ganha-ganha", comenta Veiga.
A oferta de postos
de trabalho também cresce significativamente. Um equipamento de porte médio
gera aproximadamente 2 mil empregos diretos, um número significativo em cidades
de menor porte, como é o caso de Arapiraca (AL), com 230 mil
habitantes, Cariacica (ES), com 349 mil, ou Pouso Alegre (MG), com 140 mil
moradores, que acabam de ganhar os primeiros shoppings. Mas é preciso
contabilizar ainda os empregos indiretos, resultantes da criação de novas
prestadores de serviços que se estruturam para atender às necessidades do
empreendimento.
No total, o aumento de postos de trabalho foi de 34% nas
cidades com centros de compras, ante 14% nas que não têm o equipamento. Com a
expansão das atividades econômicas, registraram um crescimento de 130% na
arrecadação do Imposto sobre Serviço (ISS) e de 79% na do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - nos municípios sem shoppings, a
evolução dos dois impostos foi de 79% e 52%, respectivamente.
"Além dos ganhos econômicos, é importante frisar o esforço de
qualificação da mão de obra local, que resulta em mais benefícios para a
cidade", comenta Eduardo Gribel, presidente da Tenco Shopping Center,
empresa mineira que aposta na interiorização e tem a meta de abrir 30 mallls
fora das capitais até 2016. Seis deles estão em operação e outros oito, em
construção.
A marcha para o interior também beneficia a indústria de shoppings por
abrir o leque de expansão. Embora a potencialidade das capitais esteja longe de
se esgotar, os custos de implantação dos equipamentos no interior são menores
pelo preço dos terrenos e porque as prefeituras exigem menos contrapartidas.
Além disso, as despesas de manutenção dos centros de compras, geralmente com um
único piso e muita luz natural, são mais baixas, beneficiando os lojistas.
Gribel afirma ser um mito dizer que o tempo de maturação dos
empreendimentos no interior é mais longo. "O prazo é o mesmo das capitais,
três Natais, porque os investimentos são menores e o movimento de vendas
continua firme ", explica. "É perigoso generalizar. Nem todos os
shoppings interioranos representam riscos mais altos para os lojistas",
diz Luiz Alberto Marinho, sócio da GS&BW, unidade especializada em shoppings
da GS&MD Gouvêa de Souza. Marinho ressalta que empreendimentos únicos da
cidade, com boa localização, atendimento regional, bom projeto e boa ancoragem,
além de baixo custo de ocupação, têm chances redobradas de dar certo.
Este é o perfil de
grande parte dos malls. O Shopping Pelotas (RS) tem 800 mil pessoas em sua área
de influência. Foi inaugurado em setembro do ano passado com 70% das 139 lojas
abertas. Hoje está com 85% dos estabelecimentos em funcionamento e deve chegar
ao fim do ano com 5% de vacância. O SerraSul Shopping, em Pouso Alegre, no
Sul de Minas, tem 480 mil pessoas na área de influência. Em abril de 2013,
quando abriu as portas, 6,39% do público permanecia mais de três horas no
equipamento. Um ano depois, o percentual pulou para 21,81% - nas capitais, o
tempo de permanência é de aproximadamente uma hora. Em evento promovido pela
Associação Brasileira de Franchising (ABF), Caito Maia, fundador da Chilli
Beans, dizia estar impressionado com o movimento da loja instalada no Unique
Shopping Paraupebas (PA), que vende de R$ 110 mil a R$ 120 mil por mês.
A marcha para o
interior deve continuar firme. Mesmo porque ainda há muita oportunidade a ser
explorada. Marinho lembra que o Brasil tem 65 m2 de ABL para cada grupo de
mil habitantes. Se todas as inaugurações previstas para 2014 e 2015 se
confirmarem, a proporção subirá para 71 m2 para cada mil habitantes, bem
longe dos 2.200 m2 dos Estados Unidos, 350
m2 de Portugal ou 175 m2 doChile. "Dizer que não tem
espaço para crescer é ir contra as estatísticas", afirma Marinho. A Lumine
também acredita nisso e acaba de anunciar o lançamento do primeiro
empreendimento de Arujá (SP), com 159 lojas, 18 mil m2 de ABL, e previsão de inauguração para novembro de
2016. O investimento será de R$ 150 milhões.
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