domingo, 23 de junho de 2013

Aprender é um processo de esforço continuo...Não te mágica!

As palavras “aprender” e “fácil” não combinam. Tornar-se bom em qualquer coisa é duro. A recompensa está na evolução: sentir-se melhor, mais capaz e feliz 

Aos 10 anos, Milton Filho se apaixonou. Ela se chamava Zodie: uma bola de metal com a extraordinária capacidade de pairar no ar, como se voasse.
 
Controlar esse poder não era moleza. Aprendiz de mágico, o garoto passava todas as tardes em frente ao espelho, tentando dominar a esfera. “Sentia vontade de desistir, porque não conseguia fazer a Zodie flutuar”, conta. Um dia, finalmente, ela cedeu. Foi uma explosão de alegria. Aos pulos, saiu correndo para mostrar o passe para a mãe. E, assim, Milton tornou-se o mágico oficial das festas de família.
 
Os truques entraram em sua vida quando o pai, radialista em Belém do Pará, se encantou com a habilidade de um mágico e lhe pediu que ensinasse os segredos a dois de seus oito filhos. Seu irmão logo desistiu, mas Milton seguiu firme. E foi com a bola prateada que ele descobriu que aprender não se parece em nada com um passe de mágica. Pede dedicação, treino, repetição, cansaço.
 
Até hoje, Milton, agora um médico de 61 anos, usa o tempo livre para praticar. “Gosto de fazer as pessoas sonhar a cada truque”, explica. Recentemente, comprou cinco jogos de mágica. E continua treinando em frente ao espelho para encantar amigos e familiares.
 
É que aprender é um processo de esforço contínuo.
 
Estudar algo novo é sempre um desafio. Desestabiliza o pensamento acomodado e força a buscar novas soluções. Por isso, é preciso persistência, paciência, tempo. Principalmente até chegar aos primeiros resultados, que nos enchem de força para prosseguir. “Quem gosta persiste”, diz Marisa Elias, professora de pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Alguns processos exigem técnicas. E é preciso muito treino para, por exemplo, adquirir habilidade com as mãos.”
 
Destrava-língua
 
O prazer aliado ao trabalho duro é o que move o empresário paulistano José Peres a falar oito línguas.
 
Filho de espanhóis, ele nasceu em meio ao dialeto catalão que os pais falavam entre si. Na escola, aprendeu francês e latim. Assim que se formou em engenharia química, notou que precisaria também do inglês. Estudou a língua por dois anos, e não demorou veio o convite para trabalhar nos Estados Unidos. Adquiriu fluência. De volta ao Brasil, a empresa onde trabalhava começou a negociar com alemães. Entendiam-se em inglês, mas José ficava intrigado ao ouvir os novos parceiros cochichar entre si. Curioso, aprendeu o suficiente para entender e responder em alemão. Alguns anos depois, começaram negociações com o Japão. E lá foi José conhecer os três alfabetos desses orientais.
 
Para ele, aprender línguas aumenta as chances nos negócios – e rejuvenesce. Hoje, com 72 anos, sentar-se na carteira para José é voltar a ser jovem. “Quando eu estou na sala de aula, viro um menino. Dá até vontade de jogar bolinha de papel na cabeça do professor”, diz. Foi por causa desse prazer que, quando completou 60 anos, voltou a estudar o francês da infância e aprendeu italiano.
 
Agora, dedica uma hora por dia – e duas aulas semanais – a descobrir o mandarim dos chineses. E que não se imagine nisso um talento para ser poliglota: para José, aprender novas línguas nunca foi tarefa fácil. “Não sou autodidata. Estudar, para mim, exige sacrifício. Detesto fazer lição de casa, mas faço. Não perco nenhuma aula porque sei que, se faltar, terei de estudar sozinho duas horas a mais.”
José sabe que todo aprendizado exige disciplina.
 
O hábito de estudar também precisa ser ensinado. “Ninguém nasce autodisciplinado”, afirma Maria Silva Bacila, professora de pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. “Isso vem da família e da escola, que impõem hábitos de estudos.” Por isso, apesar de cada um desenvolver seu jeito de aprender, a maior parte das pessoas precisa de um mestre. É ele que aponta caminhos e convida a ir adiante. “Cada avanço traz motivação para um grau mais elevado”, explica a professora “E, quando chegamos lá, temos estímulo para aprender algo mais difícil.”
 
Professor tempo
 
É como se aprender fosse uma luta contínua, que, quando menos se espera, traz a vitória.
 
Tanto esforço, de repente, termina em amadurecimento e ganha novos significados. Quando a paulistana Susete Morino começou a praticar caratê, só queria ser faixa preta. Aos 13 anos, treinava uma hora por dia. Quatro anos depois, começou a competir, e a prática se intensificou para seis horas. Nessa época, lutava para vencer – e acabou mesmo campeã paulista de caratê.
 
Mas o passar dos anos mostrou a Susete que o objetivo do caratê ia além das vitórias. “O tempo me ensinou que meu grande rival sou eu mesma. Preciso treinar para melhorar todos os dias”, diz. Hoje, aos 49 anos, além de ser faixa preta, Susete acumulou graduações suficientes para virar mestre e passou a formar atletas. Mas ainda não chegou aonde deseja. Descobriu que sempre há algo novo para aprender – até porque, quanto mais longe vai, mais capaz se sente para avançar. “Meu objetivo agora é me aprimorar na filosofia do caratê”, conta. Sem pressa. É a luta de todo dia que lhe ensina, diz. “O aprendizado não tem fim.”
 
Revista Sorria
Texto: Karina Sérgio Gomes
 
 

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