Em 27 dias de intervenções cambiais que já superam US$ 50 bilhões
e sem tocar em um único centavo das reservas internacionais brasileiras o dólar
desvalorizou 9,7%. Só ontem, em reação imediata à decisão do Federal Reserve, o
BC americano de manter a política monetária expansionista porque a economia de
Obama não reage como o esperado, a moeda americana perdeu quase 3% ante o real.
Caiu a R$ 2,196, menor cotação em três meses. No ano, o dólar chegou a esticar
até a máxima de R$ 2,451 em 21 de agosto e a exibir ganho de 20%. Essa alta
agora encolheu a 7,9%. As reservas brasileiras alcançaram o patamar de US$ 370
bilhões em abril de 2012 e por aí permaneceram até 22 de agosto deste ano, dia
em que perderam essa marca por correções, no mercado internacional, de preços de
títulos e volatilidade do dólar que estão em sua composição. Neste mesmo dia, o
Banco Central (BC) anunciou o programa diário de intervenções no mercado de
câmbio com instrumentos derivativos.
É legítimo e certamente relevante que o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, manifeste preocupação com o repasse da (já observada)
desvalorização do real nos preços. Na inflação. Mas dado o tombo do dólar no
último mês, pelo menos parte do mercado não arrisca palpite sobre o impacto que
a desvalorização ainda terá. Ontem, em meio à frustração do mercado global com o
Fed, especialistas em Brasil não cravavam um consenso sobre a direção da taxa de
câmbio. Alguns apontavam para a recuperação do dólar. Outros, para a
persistência da taxa de câmbio no patamar de R$ 2,20, ante projeções para
dezembro, consolidadas até dois dias atrás, entre R$ 2,40 e R$ 2,45.
O real frente ao dólar deu um show ontem. Foi a moeda mais valorizada entre
todas de mercados emergentes. Mas seu fôlego, em alguns momentos superior a 3%,
não agradou a todos. Era considerado ‘over’ por experientes especialistas que
alertavam para o descolamento do real x dólar na comparação com outras moedas –
e não necessariamente emergentes x dólar. Um dos especialista apontava para a
corrente de transmissão de ajustes que, em algum momento, pode virar. Ontem, a
queda acelerada do dólar na BM&FBovespa induzia à desvalorização também
acelerada da moeda cotada no mercado à vista e ambas arrastavam os contratos de
Depósitos Interfinanceiros(DI), utilizados para projeções das próximas decisões
do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) que ainda realiza mais duas
reuniões em 2013.
Esse especialista, responsável por operações de câmbio e mercado de capitais
de uma das maiores corretoras do país, atribuía a intensa queda dos juros e do
dólar apenas em parte à expectativa de que a inflação vai desafogar. A maior
parte do movimento era creditada à zeragem de posições no pregão da
BM&FBovespa com instituições e grandes investidores acionando ordens para
limitação de perdas (stop loss) – quem estava comprado saiu rapidamente vendendo
contratos de juros e contratos referenciados em dólares americanos. Se parte
substancial dos ajustes foi técnico, as novíssimas projeções para juros e taxa
de câmbio são irreais. E, em curto espaço de tempo, virá uma correção de preços
e taxas. Não necessariamente hoje ou amanhã, porque um processo semelhante
estará em curso nas maiores praças de negociação de moedas e juros do mundo –
Londres e Nova York.
É certo, porém, que o Fed com a revisão de todas as projeções de indicadores
econômicos (para pior) sinalizou não só liquidez farta, mas juro baixo por mais
tempo – ou muito mais tempo. E o chairman Ben Bernanke, durante a coletiva à
imprensa, tratou de sepultar qualquer dúvida sobre o significado baixista para o
juro, que a fragilidade dos dados de atividade sinalizam, ao afirmar ser “a taxa
de juro uma ferramenta mais eficiente que a compra de ativos”. A distribuição
das projeções do Fed para o momento em que será retomado o ciclo de alta do juro
é mais que reveladora. Das 17 projeções, 12 apontam que a guinada será em 2015;
três esperam para 2014; e duas para 2016. A taxa básica, mantida desde 2008
entre zero e 0,25%, chegaria a 1% ao ano em 2015 e a 2% em 2016.
Em tempo: nesta quarta-feira, o presidente do BC travou com
parlamentares da Comissão Mista do Orçamento um debate de cerca de seis horas –
um dos mais longos e interessantes por ele protagonizados em qualquer instância
do Congresso Nacional desde sua posse há quase três
anos.
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